Para lá da romantização que se faz dos Mandinga… a cada domingo desfila o contraste pelas ruas à frente da minha casa. É a dualidade que se revela: entre a aparência superficial e a realidade que sobressai de uma manifestação popular. Na superfície pulsa o batucar e o movimento aparentemente livre, na base corre o sofrimento social, ensurdecedoramente silencioso.
É o caos disfarçado de celebração, pernas trocolode pelo escape do álcool de qualidade duvidosa, alguns numa tentativa de auto-anulação. O álcool para uns, nem parece representar um elemento de celebração, mas sim uma tentativa de fuga ou esquecimento da realidade que pesa. Pelas calçadas seguem esses três elementos: o transe pelo ritmo frenético, o álcool como anestesia temporária e a validação existencial através do exagero do self.
Vejo do passeio essa manifestação cultural que simultaneamente expressa e mascara o sofrimento social. Lá onde muitos veem apenas diversão, eu enxergo a dor do meu povo. Uma manifestação popular que, por trás da aparente alegria, carrega uma profunda tristeza. É a dança da resistência por aguentar o longo percurso.
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